COLUNA DO ALEXANDRE

Segurança

Meu nome é Alexandre Freitas, sou o organizador da Expedição Mata Atlântica, principal corrida de aventura brasileira que faz parte do Circuito Mundial de Corridas de Aventura, o AR World Series e há 3 anos me dedico exclusivamente a divulgar o esporte.

Tenho 38 anos e sou formado em administração de empresas. Durante 16 anos trabalhei no mercado financeiro, administrando fundos de renda variável. O mercado de ações é bastante volátil e dinâmico. Pratico esportes desde minha adolescência. Em 97 fui participar de uma corrida de aventura na Nova Zelândia, a Southern Traverse. Fiquei tão envolvido que resolvi organizar um evento como este aqui no Brasil. Assim, em 1998 aconteceu a 1a edição da Expedição Mata Atlântica (EMA).

O esporte cresceu por aqui e em 2.000 foi criado o Circuito Brasileiro de Corridas de Aventura, com o objetivo de servir como treino para as equipes brasileiras participarem da EMA, competindo no mesmo nível técnico das equipes estrangeiras. Em 2001 teremos 7 ou 8 etapas preparatórias para a EMA2001.

Em 3 anos de atividades, já organizei ou apoiei mais de 10 eventos. Este ano a EMA fará parte do AR World Series, criado recentemente e que conta com 7 etapas espalhadas por 6 países.

Planejar um evento de Corrida de Aventura é bastante complexo e o principal enfoque do planejamento deve ser com a segurança envolvida. Os riscos estão sempre presentes em nosso cotidiano: o feto pode ser abortado, o recém nascido pode ter infecção hospitalar, a criança pode pegar viroses e adoecer facilmente, o pedestre pode ser atropelado ao atravessar a rua na faixa, o motorista pode ser assaltado no trânsito, etc. Em uma corrida de aventura, os riscos também estão sempre presentes: você pode cair da mountain bike em um downhill, torcer o pé durante uma caminhada, sofrer insolação, ser picado por insetos e outros bichos, etc. Cabe à organização do evento minimizar os riscos envolvidos, disponibilizando equipamentos e profissionais capacitados a prestarem socorro quando necessário. Este atendimento deve ser mais o ágil e eficaz possível, ou seja, a organização deve contar com o apoio de equipes médicas, equipes de resgate, equipes de técnicas verticais, equipes de águas brancas, etc., formadas por profissionais idôneos.

Em provas pequenas, com duração de até 60 horas, a organização deve sempre disponibilizar um aparelho GPS lacrado por equipe competidora, que poderá ser utilizado a qualquer momento. A equipe irá utilizar o GPS quando perdida, para localizar-se e poder dirigir-se a um lugar seguro. Em provas maiores, com mais de 60 horas de duração, a organização deve oferecer rádios transmissores localizadores de emergência (BEACON), que quando acionados emitem um sinal de emergência, que captado iniciará os procedimentos de resgate. É importante contar com aeronaves para monitoramento dos competidores.

Outros equipamentos, como sinalizadores, luzes estroboscópicas, kit primeiros socorros e apitos também são muito importantes para procedimento de resgate e própria segurança dos competidores e são obrigatórios, ou seja, devem ser levados pelos competidores durante todo o trajeto.

A organização deve ter total conhecimento da região e do percurso envolvido no evento. Unidades de resgate e prontos socorros da região devem ser avisados e estar preparados para eventuais ocorrências.

Os mapas devem ser atualizados na medida do possível, privilegiando informações notáveis para a conferência do navegador da equipe, sempre respeitando as convenções internacionais ou da fonte. As instruções para competidores e apoios devem conter informações precisas, principalmente quanto à localização das estruturas que a organização do evento dispõe, que são pontos de passagem obrigatória para todos os competidores. A abertura e fechamento destes postos devem respeitar horários pré-estabelecidos; as atividades de um PC, Posto de Controle, só devem ser encerradas quando todas as equipes já tiverem alcançado o PC subsequente. Pode-se tomar como referência o tempo médio de deslocamento entre 2 PC’s para o controle e segurança da prova.

Para as etapas de técnicas verticais é necessário que a organização seja auxiliada por profissionais capacitados e que disponham de equipamentos idôneos (certificados pela CE). A segurança desta etapa depende muito mais do conhecimento da equipe de técnicas verticais da organização do que da técnica de cada competidor, que só influi no tempo gasto para realizar a etapa.

Etapas de canoagem em águas brancas (corredeiras) exigem certa técnica e todos os competidores devem estar aptos a praticá-las. A organização deve exigir certificados ou declaração de habilidades, fornecidos por empresas capacitadas e reconhecidas, além de apresentar um croqui do rio a ser descido, enfatizando os pontos críticos. Disponibilizar equipes treinadas em alguns trechos ajuda a controlar os riscos envolvidos. Outra alternativa, menos rigorosa, é colocar um guia especializado em cada embarcação, para auxiliar os competidores. Acredito que esta opção influencia os resultados da competição, pois não existem guias com o mesmo nível de envolvimento e técnico.

A organização deve estar atenta a todos os detalhes da prova, sempre antecipando as providências a serem tomadas. Deve maximizar ações de precaução. E mesmo assim, com todos as providências para a segurança do evento, cada competidor ainda se sentirá instigado pela superação de seus limites individuais, sem a falsa sensação de profusão da sorte.

Coluna publicada em 11/maio/01, na website www.webventure.com.br

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